Lobão, um dos nomes mais icônicos e controversos do rock brasileiro, revisitou momentos marcantes de sua trajetória no programa Conversa com Bial, exibido nesta terça-feira (3). Conhecido por sua postura rebelde e polêmicas ao longo das décadas, o cantor de 67 anos afirmou que muitas das percepções negativas sobre ele não condizem com a realidade. Durante a entrevista, Lobão compartilhou memórias de sua amizade com Cazuza e refletiu sobre sua personalidade e imagem pública. “Cazuza sempre me defendia: ‘Lobão é um bom garoto, muito educado’. Vestimos uma carapuça, porque o rock implica isso. Éramos filhinhos da mamãe, mimados”, relembrou o cantor, destacando, com humor, como o gênero e a rebeldia frequentemente o colocavam em um papel esperado, mas nem sempre genuíno.
Uma das curiosidades levantadas foi a regravação de seu clássico Me Chama por João Gilberto, um marco na música brasileira. Lobão desmentiu os rumores de que teria rejeitado a versão do mestre da bossa nova. “Fiquei muito orgulhoso. Foi uma grande honra”, afirmou. Contudo, ele confessou que se incomodava um pouco com as ligações de João Gilberto durante a madrugada para discutir mudanças na música. “Acho que fiz um certo charme, porque todo mundo endeusava o João”, brincou, revelando sua relação ambígua, mas respeitosa, com o legado do icônico músico.
Ao longo da conversa, Lobão também abordou temas sensíveis, como seu passado com drogas ilícitas e sua visão sobre política. Ele declarou ter abandonado o uso de drogas em 1991, um marco em sua vida, e comentou sobre seus períodos de envolvimento político, tanto à esquerda quanto à direita. Lobão explicou que seu engajamento sempre foi motivado pelo desejo de se posicionar em momentos cruciais da história do Brasil, mas deixou claro que nunca teve afinidade com o universo político. “Nunca gostei de política”, afirmou. O cantor, que já foi uma figura vocal em diversos debates, revelou que chegou a uma epifania ao observar os extremos polarizados que dominam o cenário atual: “Quando percebi que se configurava duas torcidas, dois extremos, tive uma epifania: ‘Isso é inútil. Tenho muitas coisas para melhorar. Vou contribuir muito mais para a humanidade se for um ser humano melhor’”.
O tom reflexivo marcou a entrevista, mostrando um Lobão mais introspectivo, embora ainda firme em sua autenticidade e sinceridade, características que o acompanham desde o início de sua carreira. Ele também destacou que não vê sentido em reviver debates polarizadores e prefere focar em transformar a si mesmo e suas contribuições para o mundo. Apesar de sua fama de rebelde, Lobão revelou um lado humano, cheio de autocrítica e humor, distanciando-se da persona polêmica que marcou sua juventude. A participação no Conversa com Bial foi mais do que um revisitar de memórias; foi um retrato de um artista que, sem deixar de lado seu espírito questionador, busca novos caminhos para interpretar o mundo e sua própria história.