O velório de Ney Latorraca, renomado ator brasileiro, está sendo realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, um dos mais emblemáticos espaços culturais do país. O evento marca o adeus a um artista cuja trajetória deixou um legado imensurável para o teatro, o cinema e a televisão brasileiros. Ney, que nasceu em Santos, São Paulo, em 25 de julho de 1944, teve uma vida repleta de desafios e conquistas, desde sua infância humilde até se tornar um dos grandes nomes da dramaturgia nacional.
Filho de artistas que atuavam em cassinos, Ney enfrentou dificuldades financeiras quando o jogo foi proibido no Brasil. Em entrevistas, ele revelou que, desde pequeno, via na representação uma forma de sobrevivência. Apesar das adversidades, tratava sua história com humor e resiliência. “Até hoje, para mim, estou no lucro. Minha vida é sempre lucro”, afirmou em uma de suas declarações. Esse espírito leve e otimista transpareceu em suas obras, marcadas pelo humor e pelo talento versátil.
O início de sua carreira artística foi tão curioso quanto suas performances. Na escola, Ney usava o humor para superar desafios, chegando até a “incorporar entidades” para conquistar boas notas. Essa faceta irreverente se consolidou em sua estreia no teatro, aos 19 anos, com a peça infantil Pluft, o Fantasminha. Apesar de um intervalo em que trabalhou em bancos, lojas de roupas e na venda de joias, ele retornou à atuação e, a partir daí, sua carreira deslancharia de forma definitiva.
Na televisão, Ney Latorraca acumulou um extenso currículo. Após passagens pela TV Tupi, TV Cultura e TV Record, ele estreou na TV Globo em 1975, na novela Escalada. Na emissora, brilhou em 17 novelas, seis minisséries e diversos seriados e especiais, sempre demonstrando versatilidade e paixão por sua arte. Seus papéis memoráveis incluíram personagens cômicos, dramáticos e emblemáticos, tornando-se referência para várias gerações de artistas e espectadores.
Mesmo após décadas de carreira, Ney continuava ativo e apaixonado pela atuação. Em julho deste ano, quando completou 80 anos, revisitou sua trajetória e refletiu sobre o caminho percorrido. “Sou um apaixonado pelo que faço no cinema, no teatro e na televisão. Tenho orgulho de ter sido um ótimo filho, um bom amigo e um bom ator”, declarou. Seu senso de humor afiado ainda estava presente: “Ator só acaba quando morre, né?”.
Hoje, o Brasil se despede não apenas de um grande artista, mas de um homem cuja história se confunde com a própria evolução da dramaturgia no país. Seu legado é um convite à celebração da arte e da criatividade, valores que Ney Latorraca representou com maestria ao longo de sua vida. O velório no Theatro Municipal simboliza essa despedida em grande estilo, em um espaço que, assim como ele, é sinônimo de cultura e emoção.