Morre Ney Latorraca, aos 80 anos, no Rio de Janeiro
O Brasil perdeu, nesta quinta-feira (26), um de seus maiores ícones das artes cênicas. Ney Latorraca, aos 80 anos, faleceu no Rio de Janeiro após complicações decorrentes de uma sepse pulmonar, agravada por um câncer de próstata. O ator estava internado desde o dia 20 de dezembro na Clínica São Vicente, localizada na Gávea, Zona Sul do Rio. A notícia, que abalou o meio artístico e os fãs, foi confirmada pela equipe médica do hospital.
Nascido em Santos, São Paulo, em 25 de julho de 1944, Ney Latorraca teve uma trajetória marcada pela superação e pelo talento. Filho de artistas que trabalhavam em cassinos antes da proibição dos jogos no Brasil, ele enfrentou uma infância difícil, com desafios financeiros e episódios de privações. Apesar disso, a determinação e o espírito criativo de Ney se destacaram desde cedo. Em entrevistas, ele relatava que, para ele, “a vida sempre foi lucro”, uma filosofia que o acompanhou ao longo de sua jornada.
A veia artística de Ney começou a ser explorada no teatro. Aos 19 anos, ele estreou em “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado, mas a necessidade de sustento o levou a abandonar temporariamente a carreira artística. Durante esse período, trabalhou em empregos diversos, como bancário e vendedor de joias, até que, finalmente, retornou ao palco e à TV, decidido a seguir seu verdadeiro chamado.
Na televisão, Ney construiu uma carreira brilhante. Após passagens por emissoras como TV Tupi, TV Cultura e TV Record, ele ingressou na TV Globo em 1975, na novela Escalada. Desde então, sua presença se tornou uma constante nas produções da emissora, acumulando 17 novelas, seis minisséries e inúmeras participações em seriados, especiais, musicais e programas humorísticos. O carisma, o talento e o humor de Ney marcaram papéis memoráveis, como Ernesto Gattai, em Anarquistas, Graças a Deus, e inúmeras outras atuações que cativaram o público.
Mesmo nos momentos de maior desafio, Ney nunca perdeu a paixão pela arte. Em julho, ao completar 80 anos, ele refletiu sobre sua trajetória, afirmando que “vale a pena ter feito tudo isso com a maneira de ser como profissional”. Para ele, atuar era mais do que um ofício; era um propósito de vida. “Ator só acaba quando morre, né?”, disse ele, em um depoimento que agora ganha um tom ainda mais simbólico.
Ney Latorraca deixa um legado incomparável para o teatro, o cinema e a televisão brasileira. Mais do que um ator, ele era um contador de histórias, um mestre do humor e um exemplo de paixão pela vida. Sua ausência será profundamente sentida, mas suas contribuições permanecerão vivas na memória cultural do país.