Ney Latorraca revisitou vida e obra aos 80 anos: um artista completo e apaixonado
Em julho de 2024, ao completar 80 anos, Ney Latorraca concedeu uma emocionante entrevista ao gshow, revisitando sua trajetória de vida e carreira. Com a mesma vivacidade que o acompanhou ao longo de mais de cinco décadas de atuação, ele refletiu sobre sua história e sobre o significado dessa “data redonda”. Para Ney, a idade avançada não diminuía sua paixão pela arte, mas trazia uma nova perspectiva sobre as fases da vida. “A gente sente o corpo. Não tem mais aquela vivacidade de antes. Dar três voltas na Lagoa não dá mais. Mas vivenciar todas as etapas é enriquecedor”, disse ele, com sua característica sinceridade e bom humor.
Ney relembrou sua extensa carreira, que incluiu papéis marcantes em novelas, séries, minisséries, teatro e cinema. Ele se destacou por sua versatilidade, transitando entre comédia, drama e musicais com a mesma excelência. “Ser eclético na arte é uma delícia para mim. É sempre uma coisa de risco, mas de nível. Mesmo com 80, me sinto como se estivesse na escola de teatro, começando tudo de novo”, afirmou. O ator, que também se autodenominava crítico de si mesmo, confessou que muitas vezes desejava ter feito alguns trabalhos de maneira diferente. “Minha exuberância me leva para um caminho de realização. Se é para dançar tango, eu danço. Se é para chorar, eu choro. Vou com tudo!”, comentou, celebrando sua entrega total em cada papel.
Em sua vida pessoal, Ney Latorraca viveu momentos de serenidade em sua cobertura na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro. Ele dividia o espaço com seu companheiro de duas décadas, Edi Botelho, com quem compartilhava uma rotina tranquila, cercada de livros, orquídeas e banhos de piscina. Apesar de se considerar mais reservado nos últimos anos, o ator nunca perdeu o gosto pela reflexão e pela leitura. Na época da entrevista, estava encantado com o livro Cine Subaé, uma coletânea de críticas de cinema escritas por Caetano Veloso.
Ney também refletiu sobre a passagem do tempo e a saudade de amigos queridos que partiram, como Marília Pêra, sua madrinha no teatro. Ele revelou ter criado um ritual antes de dormir, onde rezava e pensava com carinho nas pessoas que marcaram sua vida. “Sonho muito com eles. É minha forma de lidar com a dor e celebrar o amor que tivemos”, confidenciou.
O artista, que dispensava procedimentos estéticos e lidava com as marcas do tempo com naturalidade, resumiu sua trajetória com orgulho e gratidão: “Valeu a pena ter feito tudo isso com a maneira de ser como profissional. Sou um apaixonado pelo que faço no cinema, no teatro e na televisão. Tenho orgulho de ter sido um ótimo filho, um bom amigo e um bom ator. Mas ator só acaba quando morre, né?”. A frase, dita em tom de brincadeira, acabou se tornando uma celebração de sua intensa e inesquecível jornada no mundo das artes.